terça-feira, 4 de março de 2014

Até que caleidoscópio

  Feira Internacional. Itália. Vidro mosaico. De todo orgulho, meu pingente.
  Pendia em bolsa azul, junto a tantos outros. Batia, esbarrava, fingia cair, argola que o segurava era aberta já. Até que fui ao shopping. Até que fui lavar minha mão. Até que caiu. Até que estilhaçou, e estilhacei junto. Tão colorido, mosaico fluido, envolvente. Até que jazia. Até aqui.


  Que podia fazer? Jazia. Só juntei. Eram estilhaços. Cortaram-me dedos porque voltaram os cacos para mesma bolsa azul. A mesma bolsa azul de todo resto, das chaves, dos lápis, do dinheiro, do celular. E cortavam, cortavam. Caos, cacos cortavam.
 Basta. Saiam todos. Até que os coloquei ali na estante. Pedaços esperados despedaçados. Até que os vomitei ali. Tanto que vomitei. Ânsia de vômito. Vidro cortante. Eram o que eram. O que jaziam. Até que ficaram ali. Tempos.
  Quando bem, faltava lhes observar. Até que. Até que se eu junto aqui, junto ali. Pera. Junta ali e aqui. Têm forma. Meu pingente não jazia, nunca jazeu.


"César Pereira: Procura-se cola mil. Tratar com a Nix — com Rhaíssa Bentes Leonel". 

  Precisava de cola. Precisava de cola. Era quebra-cabeça, era cortante; precisava de cola. De tudo óbvio, não lhe eram os mesmos traços. Quem há de ser o mesmo depois de estilhaços? Certo de que falta ali uma parte, pedaços que a água levou. Certo de que marcas e traços dos cacos estão ali. E certo também que se coloco na luz, brilha o mosaico. Até que é caleidoscópio. Aquele que tentei construir de mãos próprias, de tudo irresoluto, guardei-o. Já tinha tal precioso em mãos, ou em bolsa azul.

  Porque é preciso que quebre, que corte, que vomite, que passe tempo. Até que se redescobre que nunca jazeu. Que precisava cola. Que brilha, caleidoscópio. Até que a parte que água levou deixou espaço pra ver a janela ali fora. 
                                                                                   Rh