terça-feira, 17 de julho de 2012

Receita por cachos

     Se fosse receita de como fazer bolo, daria eu início pelos ingredientes. Porém, lembra, leitor sabido, que há tempos não ponho mais palavras expressas neste blog meu. Que havia comigo? Perguntas retóricas sempre me voltam e assim tornam a voltar. São meus cachos que se enlaçam uns nos outros e dão nós na cabeça, nós dourados e cacheados. Somos nós.
    Contenta-te, leitor agoniado em agoniar-me, que foi um Hi-a-to. Necessitava de pausas e reflexões. Partes estas que não me faltam; senti-las sensivelmente me é inerente, com todo drama conveniente. Todos precisam de Hiatos: Baús de tesouro, Joelhos de bailarina, Saídas de emergência, e Rha-ís-sa.

   
      O fato é que meus cabelos muito têm dado trabalho, verdade. Antes, obviamente, leitor breve, evitando injustiças, hei de reclamar pelos elogios paternos e maternos. Toda essa cabeleira foi bem cultivada e educada por eles quando a eles pertenciam tal dever. O pente e a escova, no entanto, me foram entregues. Não que não houvera embaraços, porém, se embaraçavam, logo vinham eles desfazer os nós. Agora, até por escolha própria e imposição mundana, venho eu pentear meus fios, sentindo obrigatoriamente a dor que tenho eu por não ter quem melhor segure as raízes. Puxões certamente pela falta de prática, compreende, leitor. Trabalho atrapalhado, por vezes interminável, que finda em ondas de mel, felizmente.
       Como os cachos são voluntariamente eles mesmos, costumo passar-lhes o pente quando tomo banho. Antes que sequem, mais uma vez, torno a tentar domá-los. Leitor imaginativo, os fios realmente se entrelaçam porque eu os habituei soltos, sem cremes ou mousses definidores. Estes me servem tão somente depois que meus cabelos já estão secos e frisados já que não se podem lavar os tais caracóis todo dia. Com o tempo, as pontas, além de secas e duplas, podem abrigar verdadeiros nós, bem pequenos e fortes. Agora, entende tu, leitor da generalidade masculina, porque dizem dos cabelos cacheados. Precisam constantemente de um bom co(o)rte.
      Os fios estão muito longos; e há ainda muita beleza neles. A liberdade romântica que dou para tais fios, leitor querido, pouco contempla as reais asas que queria lhes emprestar. Elementar confusão, mas fios muito longos não tardam a bater nos rostos dos outros ou a acaricia-los. Ingênuo leitor que acredita que meus sonhos e ideais são totalmente perfectíveis e defensáveis em plenos dezenove anos. Não zombes deles, crítico leitor crítico. Precisam de maturidade, de contestações, e nem por isso, deixarão de ser menos doces. São sonhos. Somos sonhos. 
     Logo vou decidir por cortar esses cachos. Não sei se muito, para que ares novos me soprem, ou pouco, para lembrar que os fios sempre crescem e não se pode fugir desses cabelos que tanto insistem em serem eles mesmos. Ingênuo é o leitor que acredita que falo tão somente de cachos. Pior ainda é o que pensa que uma mulher revelaria o que mal ela compreende tão expressamente...

                                                                                                                  Rhaíssa (V.C.)