[Oferecido(a) aos batons vermelhos, aos sugeridos decotes, às unhas crescidas, aos vestidos
colados, aos shorts curtos, às minissaias, aos
saltos valorosos].
Nesses tons fantasmagóricos, nesse quarto de lâmpadas queimadas, nessa iluminação única de uma vela, nesse dia chuvoso de 30 de novembro - quase aniversário por falta de 1 -. Nisso, escrevo.
Quando te são dados teus dotes, bruxinha leitora, tão ou nem tanto furtivos aos olhares, quê fazes deles? Com eles? Neles? Há umas que lhes agradam o ar ou desar enfumaçado enegrecido. Outras que lhe descobrem dons celestes de sua feminilidade, imaculam-se a um só ou a nenhum.
Certa(s) outra(s), certa de que sou uma incerta dessas, nunca lhe viam dotes até pouco. E assim, como uma vírgula, escondida, transpassada, pontilhada, insegurada, surgem. Olha a si, vê o ontem transformado. Pisca, pisca, fecha, fecha, toca o espelho. Encanta-se, descobre. É bruxa. É fada. É, porque se desencaminha e os leva junto. Enfumaçada e imaculada, tem poder de tudo ser, sem saber.
[Snowhitenwitch]
Envolve nela ela, nela ele, eles, eles delas. Confusão pronominal, conjugação carnal. Foi pelo Halloween banal.
Quando vê próprias feitiçarias, enfadanha-se. Fada?
- Queime a bruxa! Morte à bruxa!
- Queime a bruxa! Morte à bruxa!
- Queime a bruxa! Morte à bruxa!
E quem acredita? Quem defende? Só há falso moralismo. Aponta, aponta, não vê a si. Caça inquisição. Julga, julga, fala, fala, caça, caça. Mata!
Amarrada, ela se caça. Fada, bruxa? Virgulada, só quer ser menina, só quer ser mulher.
Rhaíssa.