Contenta-te, leitor agoniado em agoniar-me, que foi um Hi-a-to. Necessitava de pausas e reflexões. Partes estas que não me faltam; senti-las sensivelmente me é inerente, com todo drama conveniente. Todos precisam de Hiatos: Baús de tesouro, Joelhos de bailarina, Saídas de emergência, e Rha-ís-sa.
O fato é que meus cabelos muito têm dado trabalho, verdade. Antes, obviamente, leitor breve, evitando injustiças, hei de reclamar pelos elogios paternos e maternos. Toda essa cabeleira foi bem cultivada e educada por eles quando a eles pertenciam tal dever. O pente e a escova, no entanto, me foram entregues. Não que não houvera embaraços, porém, se embaraçavam, logo vinham eles desfazer os nós. Agora, até por escolha própria e imposição mundana, venho eu pentear meus fios, sentindo obrigatoriamente a dor que tenho eu por não ter quem melhor segure as raízes. Puxões certamente pela falta de prática, compreende, leitor. Trabalho atrapalhado, por vezes interminável, que finda em ondas de mel, felizmente.
Como os cachos são voluntariamente eles mesmos, costumo passar-lhes o pente quando tomo banho. Antes que sequem, mais uma vez, torno a tentar domá-los. Leitor imaginativo, os fios realmente se entrelaçam porque eu os habituei soltos, sem cremes ou mousses definidores. Estes me servem tão somente depois que meus cabelos já estão secos e frisados já que não se podem lavar os tais caracóis todo dia. Com o tempo, as pontas, além de secas e duplas, podem abrigar verdadeiros nós, bem pequenos e fortes. Agora, entende tu, leitor da generalidade masculina, porque dizem dos cabelos cacheados. Precisam constantemente de um bom co(o)rte.
Os fios estão muito longos; e há ainda muita beleza neles. A liberdade romântica que dou para tais fios, leitor querido, pouco contempla as reais asas que queria lhes emprestar. Elementar confusão, mas fios muito longos não tardam a bater nos rostos dos outros ou a acaricia-los. Ingênuo leitor que acredita que meus sonhos e ideais são totalmente perfectíveis e defensáveis em plenos dezenove anos. Não zombes deles, crítico leitor crítico. Precisam de maturidade, de contestações, e nem por isso, deixarão de ser menos doces. São sonhos. Somos sonhos.
Logo vou decidir por cortar esses cachos. Não sei se muito, para que ares novos me soprem, ou pouco, para lembrar que os fios sempre crescem e não se pode fugir desses cabelos que tanto insistem em serem eles mesmos. Ingênuo é o leitor que acredita que falo tão somente de cachos. Pior ainda é o que pensa que uma mulher revelaria o que mal ela compreende tão expressamente...
Rhaíssa (V.C.)
O melhor de todos. Sem mais, por enquanto. Precisarei refletir demoradamente sobre vossas palavras antes de me atrever a tecer qualquer peça acerca de vossa produção literária. Por enquanto, só posso dizer que estou impressionado, mas não surpreso.
ResponderExcluirTu me verás novamente por aqui. Certamente.
O melhor de todos? Nossa, não esparava essa. Eu, sim, fiquei surpresa e impressionada. Gostarias que me contasses o que viste por entre tantas linhas que te fez tal efeito.
ExcluirReflexões e meditações para melhor corresponder-me? Também tento fazer isso muitas vezes. Então, vamos à continuação!
para melhor me corresponder*
ExcluirContinuando. Severas críticas, embora veladas, à severidade masculina, hein? Embora eu reconheça que os homens em geral possuem poucas habilidades com cachos a não ser puxá-los, é de se estranhar que os mesmos tantas vezes testem as raízes dos mesmos cachos que insistem em esquivamente esvoaçar-se, hein? Um pensamento realmente muito chamativo.
ResponderExcluirPor esta continuação assim, mais uma vez, não esperava. Não esperava tal análise pontualmente profunda. E ainda... Parece guardar um pouco de tristeza ou um certo questionamento decepcionado. Se estiver errada, perdoa.
ExcluirCríticas aos homens sempre presentes. E à severidade masculina então, essas não me faltarão. Mas, há que lembrar que quando falo leitor isso ou aquilo, nem sempre tais ferroadas deveriam ser direcionadas a todos os leitores. A leitura nos permite isso, certo? Escolher e imaginar o que queremos sentir ao ser um leitor, meu caríssimo leitor ^^
Um excelente filme, com cachos e música celta :)
ResponderExcluir(tentei colar o link, mas não consegui. Assista ao trailer e, se possível, ao filme "Brave" - "Valente", aqui no Brasil)
Durante toda a leitura, pensei que realmente falasse sobre cachos!
haushaushas
Parabéns pelo texto!
E agora há pouco li uma frase interessante no face, sobre leitores e leituras, atribuída ao Nietzsche: Os leitores extraem dos livros, consoante o seu caráter, a exemplo da abelha ou da aranha que, do suco das flores retiram, uma o mel, e a outra o seu veneno.
Desculpa-me pela demora, nobre Gabriel, rsrs. É que eu me perdi nos cachos. E olha que já os cortei, rsrs.
ResponderExcluirBrincadeira minha.
Meu computador estava dodoi e mandei ele se tratar e tudo. Já está bonzinho agora! rsrs
Muito obrigada pelos elogios, meu caro. Obrigada.
Sim, coincidências, pra mim, não existem. E acredita, assisti "Valente" quinta-feira passada, pouquíssimo tempo depois de ter feito este escrito. Chorei com a lição do filme, dancei na ótima trilha sonora, brilhei junto com as roupas e paisagens do desenho, voei nos cachos ruivos da Merida... Com certeza! Sabes, uma das músicas que compoe a trilha sonora é de uma banda que amo muito: Mumford and Sons. Folk me é inerente, meu povo.
Humm, somente nos cachos? Sim, concordo plenamente. As asas literárias voam da forma como a ave que as empunha escolhe voar. A literatura tem disso, interpretações diferentes porque sempre dependem do imaginário ilimitável.
Amo mel, humm... Que delícia! Obrigada, rsrs.
Adorei os cachos! Belo texto.
ResponderExcluirOunn, Sharala, querida, muito obrigada pela visita e pelo elogio.
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